Xoán M. Paredes (*)learning

É algo óbvio, mas aprender requer esforço, e quando menos uma mínima motivação. No caso concreto da aprendizagem de línguas requer-se, aliás, de bastante paciência e ainda alguma disciplina mental para não cair no desânimo. Digamos que tudo é possível, dependendo das vontades e do tempo do que disponhamos.

Quem me conhece sabe que eu sempre uso o mesmo exemplo nas aulas: aprender um idioma é como praticar um desporto. Conhecer a teoria e as regras está muito bem e é preciso, mas ler um manual de basquetebol só vai fazer que acabes sendo árbitro (com sorte). Para seres jogador ou jogadora vais precisar também de jogar partidas e encestar bolas. Só nessa prática, nessa repetição, nessa rotina, vais desenvolver as tuas qualidades, vais realmente interiorizar os movimentos e fazer com que tudo acabe sendo natural e fluído. Leva tempo, claro, mas não tem porquê ser aborrecido. No caso dos idiomas, além disso, é necessário mandar a vergonha dar uma volta, como quem se tira de cima a pressão do público.

Um novo idioma aprende-se se o “treino” for constante, se há uma exposição habitual à sua sonoridade, às suas palavras, mesmo se é em doses curtas. Outro símile que funciona bem à hora de explicar o processo de começarmos a perceber e falar de verdade uma nova língua é o de “acumular horas de voo”, como um piloto: quanto mais tempo passemos afazendo o ouvido a esses sons que no princípio resultam tão estranhos, mais familiares acabarão por ser, até o ponto de se ligarem para sempre com o nosso estudo teórico.

Assim, temos que querer aprender, ter algum tipo de interesse, compreender que um idioma moderno é algo vivo e útil, cheio de sentimentos e emoções, de encontros e desencontros, ferramenta de ciência e veículo de conhecimento e cultura. Com estas referências, aprender transforma-se numa brincadeira, numa descoberta, finalmente em parte intrínseca de nós, enriquecendo-nos, onde o que parecia um esforço titânico passar a ser um passatempo, algo ao que lhe perdemos o medo e nos fai desfrutar

Claro, isto vale para adultos e adultas, mas… como transmiti-lo às crianças? Esse é um outro problema que tem mais a ver com o próprio sistema educativo.

Por desgraça, o sistema de ensino que temos no nosso país na actualidade centra-se ainda numa acumulação teórica de conhecimentos, com uma cativa carga prática, onde o saber continua a ser algo sem o suficiente contacto com o mundo real. Quando menos isso é o que percebem os nenos e nenas, isso é o que transpira fora das aulas, sendo no geral incapazes de conectarem o aprendido com as suas realidades. Os idiomas não escapam a isto.

Abofé que as cousas da didáctica melhoraram desde os tempos que nós, agora adultos e adultas, tivemos que memorizar sem piedade toda uma série de dados absurdos, em parte graças a uma cada vez melhor formação do professorado, mas estamos ainda longe dos modelos de referência no mundo, como pode ser o caso finlandês. A mudança é lenta, e multi-factorial.

Igual que como adultos temos que entender que para aprendermos um novo idioma é preciso esse chisco de motivação e consciência aumentada da que falávamos antes, para uma criança isto deve ser aplicado a todas as matérias. Não só isso, essa responsabilidade recai tanto nas profissionais da sua escola como em nós, família ou não, que estamos ao seu redor, contribuindo criticamente na sua formação, como aluna e como pessoa. Nós somos a equipa onde joga, a tripulação do seu avião, o espelho onde se observa.

É nessa visão integral onde se pode começar a desenvolver um modelo educativo realmente eficiente, verdadeiramente moderno e eficaz.

Bem pensado, isto de aprender é algo curioso à vez que delicado. O que damos por sabido e totalmente superado levou-nos bastante esforço aprende-lo no seu momento, desde ler, somar e subtrair até conduzir. Isso, precisamente, nunca o deveríamos esquecer, pois a cadeia de transmissão do conhecimento é algo bastante frágil, que requer essa paciência constante, essa exposição cuidada, essa repetição, geração trás geração, cesto a cesto, e onde todos e todas temos um papel crucial.

(*) Xoán é um dos nossos professores. Podes consultar o seu perfil >aqui<.